Estamos Todos Sem Máscaras

Não quero voltar à realidade,
Aos sorrisos sem graças,
Às meias-verdades.
Melhor seria ficar aqui,
Onde a noite não termina,
O sono não nos vence
E os beijos são molhados e densos como a neblina.
Estamos todos sem máscaras
E, apesar disso, gostamos do que vemos
Ainda assim, o espelho não nos assusta.
E de repente
Me descubro
Feito da mesma matéria podre que todos os outros
E, sem remorso, deixo minha podridão extravasar.
Seria eu menos podre
Se a mantivesse trancada aqui dentro?

Só sei que não quero voltar pra casa
Não quero mais o meu quarto
Não quero mais guardar minhas asas
Melhor ficar aqui,
Onde o dia foi feito pra ser jogado fora,
A luz do sol não retalha nossa cara
E os desejos são afiadas lâminas
Que cortam também quem as empunham.
Estamos todos sem máscaras
E, apesar disso, não sentimos vergonha
Ainda assim, estamos abraçados.
E de repente
Me descubro
Feito da mesma matéria suja que todos os outros
E, sem escrúpulos, deixo minha sujeira aflorar.
Seria eu menos sujo
Se a mantivesse fermentando aqui dentro?

Só sei que não quero mais passar as noites
Cochilando em frente à TV na sala
Não quero mais arrumar minhas malas
Não quero mais recolher minhas garras.
Melhor ficar aqui
Explorando terrenos cutâneos desconhecidos
Onde as dores e os rancores são amortecidos
E valem cada gota da bile vomitada.
Estamos todos sem máscaras
E, apesar disso, deixamos as luzes acesas
Ainda assim, não há constrangimento.
E de repente
Me descubro
Feito da mesma matéria imunda que todos os outros
E, sem culpa, deixo minha imundície transbordar.
Seria eu menos imundo
Se a deixasse aqui dentro criando vermes?

Só sei que estamos chegando de volta
Tiremos, então, nossas máscaras do bolso
E as recoloquemos. 

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1 Comentários

  1. Rapaz, você está com uma pontaria afiadíssima! Parabéns. JB

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