Presídios Autolimpantes

Dizem, os viadinhos defensores dos direitos humanos (aos quais designarei, doravante, nessa postagem, por VDDH, um ramal, uma ramificação, uma subespécie do VPC - viadinho politicamente correto), que o sistema carcerário, penitenciário, ou qualquer que seja o nome dado ao Minha Casa, Minha Vida do bandido, ao INSS do vagabundo, é precário, ultrapassado, arcaico, praticamente medieval.
Discordo dos VDDH. Veementemente. Falta de visão dos VDDH, que só enxergam pelo olho do cu. Pois é justamente o oposto, o avesso, o invés. O sistema penitenciário no Brasil é de vanguarda, é pioneiro, representa a tecnologia de ponta em reengenharia social. Justamente por isso, por ter uma visão além de seu tempo, nostradâmica, é tão mal compreendido, mal falado, deturpado e depreciado pelos VDDH : tudo o que é novo e, sobretudo, inovador, causa estranheza, repulsa das mentes tacanhas e engessadas. Impacta, choca.
O sistema penitenciário brasileiro, após décadas e mais décadas de pesquisas, não de ciência acadêmica e pura, que não serve pra porra nenhuma, mas de suado empirismo, utilizando-se de cobaias humanas, que são sempre as melhores cobaias, desenvolveu a tecnologia dos Presídios Autolimpantes.
Depois do forno e da geladeira (a tal frost free) autolimpantes, o xilindró autolimpante, aquele que você liga e esquece que ele existe. A tecnologia não é exatamente nova, o seu criador, Ubiratan Guimarães, conhecido por Coronel Ubiratan, a aplicou com estrondoso sucesso, pela primeira vez, em 1992, no presídio do Carandiru. Cada país tem o Bill Gates e o Vale do Silício que merece, que faz por onde. Um visionário, um incompreendido, o Coronel Ubiratan. O Marreta, silenciosamente, presta uma salva de 21 tiros para ele, nesse momento.
A tecnologia é simples, como todo o engenho dotado de genialidade, obedece às leis naturais, prima pela menor entropia : basta confinar a escória em presídios de segurança máxima e deixá-la por sua conta, deixar que ela siga seus instintos, sua natureza, ou seja, deixar que, na falta de vítimas indefesas e inocentes, mate-se entre si, o que eu chamo de uma autofagia social.
Que, fermentando na sua própria merda, a escória seja a cura para o próprio mal que é. Onde, isolada, cague, mije, vomite e ejacule o veneno para a sua própria peçonha, seja sua doença, redenção e livração autoimune. Ambiente controlado em que a cobra morda o seu próprio rabo, em que seja aplicado o princípio da homeopatia, a lei dos semelhantes, similia similibus curantur (semelhante pelo semelhante se cura), nem que seja, e principalmente, pela eliminação. 
Os Presídios Autolimpantes são, portanto, o avesso do avesso do avesso do avesso do que apregoam os VDDH, não têm nada de anacrônicos ou de obsoletos, estão na dianteira desse processo, estão com as vistas voltadas e antenadas às novas necessidades e urgências planetárias, pautam-se pelo prisma das  metas do milênio : são baratos, ecológicos, holísticos, homeopáticos, autogeríveis e, pra usar o termo que causa múltiplos orgasmos anais nos VDDH, autossustentáveis. E também definitivos. Que ninguém escapa do cemitério, nem faz rebelião ou motim.
Os presídios autolimpantes também são grandes aliados na contenção de despesas, palavra de ordem do dia da nossa  tão combalida e arrombada economia. Li que cada preso chega a onerar os cofres públicos em 4 mil reais mensais. Multipliquem essa cifra pelo número de mortos recentes e vejam a economia. Montante esse que poderia ser redirecionado à escolas, creches, postos de saúde e até, em se tratando de estados da Amazônia Brasileira, a alguma ONG de proteção ao boto-cor-de-rosa, o Clóvis Bornay da Amazônia.
E por que sempre que ocorrem essas triagens, essas peneiradas no interior de presídios, há tanto alarde da imprensa - seja a falada, a escrita, a televisionada ou a internetada - e dos VDDH? Até a ONU, através de seu Alto Comissariado, resolveu se meter e pediu que as mortes de detentos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) e da Unidade Prisional do Puraquequara (UPP) , em Manaus, sejam investigadas de forma "imparcial e imediata" e que os responsáveis sejam levados à justiça.
Por que esses indivíduos tão bem-intencionados não armam estardalhaço semelhante em relação às vítimas dos vagabundos que lá estavam confinados? Por que não fazem o mesmo alvoroço para defender aquele que foi assassinado ou estuprado? Por que a porra da ONU não vai intervir de forma efetiva em locais onde estão a ocorrer os verdadeiros massacres e genocídios, onde gente inocente de verdade está a ser dizimada?

(Palavras do governador do Amazonas sobre os tipos de crimes pelos quais os que se mataram entre si estavam a cumprir pena : "Não posso fazer comentário sobre o que o ministro falou. Só sei dizer que não tinha nenhum santo. Eram estupradores, eram matadores que estavam lá dentro do sistema penitenciário e pessoas ligadas a outra facção, que é minoria no estado do Amazonas e que foi objeto disso".)

A questão, o grande agravante, segundo os VDDH e todos os órgãos nacionais e mundiais de defesa ao bandido, é que os detentos que ali morreram (que se mataram, que fique bem claro; a chacina não partiu da força policial, foi uma limpeza promovida por e entre eles, uma reorganização de poder das facções ali estabelecidas) estavam sob custódia, tutela e proteção do Estado.
Ora, porra, e não estamos todos nós? Sob a custódia, tutela e proteção do Estado? Afinal, o Brasil é um dos países ditos democráticos em que o Estado mais interfere na vida do cidadão, que mais ingerência exerce sobre a vida particular dos seus. 
O cara que foi assaltado e morto na rua, ao voltar do trabalho para a casa e para a sua família, não estava sob a proteção do Estado, da Segurança Pública? A menina estuprada, também não estava sob a proteção do Estado? O idoso que morreu a esperar por consulta, exames e tratamento na fila do SUS, também não estava sob a proteção do Estado? A criança que foi aliciada pelo traficante na porta da escola, ou mesmo dentro da sala de aula, também não estava sob a proteção do Estado?
Então, por que porra o espalhafato é feito somente quando o Estado falha em sua obrigação para com o bandido? A OAB fala em indenização paga pelo Estado às famílias dos vagabundos. E às famílias que ficaram sem o pai, a mãe, sem um filho? Pau na bunda, né?
A resposta é simples, e já a disse aqui várias vezes : o Brasil é um país descoberto, colonizado, habitado e legislado por bandidos. Os bandidos, desde a chegada de Cabral, sempre ocuparam os cargos e as posições de liderança.

(Palavras do secretário nacional de Juventude, Bruno Júlio (PMDB) : "Eu sou meio coxinha sobre isso. Sou filho de polícia, né? Tinha era que matar mais. Tinha que fazer uma chacina por semana. Isso que me deixa triste. Olha a repercussão que esse negócio que o presídio teve e ninguém está se importando com as meninas que foram mortas em Campinas. Elas, que não têm nada a ver com nada, que se explodam. Os santinhos que estavam lá dentro, que estupraram e mataram: Coitadinhos, oh, meu Deus, não fizeram nada! Para, gente! Esse politicamente correto que está virando o Brasil está ficando muito chato. Obviamente que tem de investigar, tem que ver...")

(Palavras, que faço as minhas, do deputado Jair Bolsonaro : "50 mil mulheres são estupradas todo ano, esse pessoal não tem recuperação, tem gente com pena de bandido, lá é lugar do cara se ferrar, se explodir, de pagar os pecados, e o objetivo da cadeia é tirar o canalha da sociedade, não é recuperar, não. Mais desconfortável que o preso, tá aquele cara debaixo da terra, ou aquele que chora a morte do filho a vida toda".)

A solução são os presídios autolimpantes. A solução para a superlotação carcerária é superlotar o inferno. O Capeta está em festa. Está com superávit de mão de obra. 
O Capeta, conversei com ele ontem, está até pensando em construir um décimo círculo em seus domínios, à periferia dos nove já descritos por Dante, só para alocar os refugiados dos presídios brasileiros. Um novo círculo a fazer as vezes de um conjunto habitacional, uma espécie de Cohab, antes que os presos brasileiros comecem a gritar por seus direitos também lá no Quinto dos Infernos, comecem também por lá a se organizar em movimentos sociais, e, o maior pesadelo do Capeta - ele próprio me confessou -, que comecem a montar assentamentos em frente ao Palácio do Planalto Infernal.
Perguntou-me também, o Capeta, sobre a idoneidade de uma certa empreiteira, que nem mesmo publicado um edital de licitação das novas construções, provavelmente tendo recebido informações privilegiadas, já se ofereceu para realizar as obras : "uma tal de Odebrecht", disse o Capeta.
Pããããããããta que o pariu !!!, eu disse, vade retro!
O Capeta, a pensar que era com ele, se benzeu e sumiu numa nuvem de enxofre.

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