A Prancha (Ou : Entre o Escorbuto e o Tubarão)

À frente,
No mar,
Os tubarões,
As águas-vivas,
As serpentes marinhas,
Os triângulos das Bermudas,
O fatal despencar
Pelas cataratas da borda do mundo;
Às costas,
No convés,
A tripulação de degredados,
O escorbuto,
O canibalismo,
A falta de rum.
Entre os dois Infernos,
Um intermédio :
A prancha.
Caminhar pela prancha,
Viver entre a bucaneira espada e a goela do tubarão
Não é necessariamente ser trespassado pela lâmina enferrujada do Barba Negra
Nem carnemoído pelos dentes do tubarão :
É desafiar os dois,
É cagar e andar para ambos
É lavrar meu eterno voto nulo na vida
(a prancha não é o fim,
São os meios),
É ser um alegre bêbado-equilibrista sobre dois abismos,
É ser anjo caído e expulso de dois paraísos
- Um Lúcifer com acúmulo de cargos -,
É ser excomungado pelo Bem
E canonizado pelo Mal.
Em suma : é tocar a vida como eu sempre toquei.

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