Pretérito e Póstumo

Hoje
Não é a tela de segurança da sacada
Que se faz em grades para mim;
Nem o zelo e o velo
Pelo sono tranquilo do meu filho
(vigio-o em turnos regulares pela madrugada)
Que hoje corta as asas dos meus calcanhares;
Tampouco o desgraçado dia de trabalho
Que chega
Cancerígeno
Acompanhando os UV do sol
E exige que eu esteja
No mínimo no piloto automático
Que me põe hoje tornozeleira eletrônica.
Hoje
As grades
São o próprio ar,
O escuro,
O Tempo,
A gravidade,
Meus próprios átomos transmutados em carcereiros.
Hoje 
É daqueles dias
Em que eu sairia a vagar pela madrugada.
Sairia...
Eis minha real jaula :
O meu futuro feito e cercado de passado.
Sairia...
O alçapão de futuro do pretérito em que cai.
Pretérito.
E póstumo.

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