Buceta Go!

Nos últimos dias, semanas, sei lá, tenho visto de soslaio, ouvido de canto de orelha, em jornais, revistas, tv, internet, manchetes sobre o jogo Pokémon Go. Que ele já teve um porrilhão de milhões de downloads (mais um idiota cibernético que fica milionário), que está prestes a se tornar uma verdadeira pandemia, que já cativou uma legião imensa de seguidores zumbis eletrônicos, que absorve de tal forma o jogador, deixa-o tão alheio ao mundo real, que já foi responsável por atropelamentos e até por mortes em países como os EUA e o Japão, onde foi primeiramente lançado. Nas rápidas manchetes em que meus olhos bateram inadvertidamente, nada era dito do jogo - em que consistia, como funcionava, parecia que era algo tácito, ele foi lançado hoje e era como se o mundo todo, instintivamente, soubesse suas regras. Também não fui atrás de me informar de detalhes. Não me interesso. Quero que o Pikachu se foda!
Só que agora essa merda chegou ao Brasil, e como infecta, principalmente, o público adolescente, em cujo meio eu passo grande parte de meu dia, acabo não tendo escapatória, todas minhas rotas de fuga ficam bloqueadas e acabo por tomar ciência desses modismos.
Hoje, na aula antes do intervalo, naqueles cinco minutos finais em que os alunos já guardaram o material e ficamos esperando, todos, o soar do gongo da liberdade, dois deles se chegaram a mim e perguntaram se eu também ia caçar pokémons. Perguntaram de sacanagem, claro, pois é notória a minha aversão por celulares e congêneres. Eu ri e perguntei que porra é essa de caçar pokémons, pois ontem ainda, dentro do ônibus, vira três idiotas com seus celulares nas mãos a trocar informações sobre a localização desse e daquele pokémon.
O que entendi sobre o jogo foi o seguinte : uma vez feito o download e concluída a instalação, o programa do jogo utiliza o GPS do celular para localizar a cidade em que se encontra o jogador, e, a partir daí, utilizando os recursos do Google Maps, distribui as criaturinhas pelas ruas, avenidas, praças, parques e até cemitérios da cidade do jogador. E está pronto o cenário do jogo. Daí, é só o cara sair seguindo as instruções do GPS, andando pela rua feito um autômato, com olhos grudados na telinha, à cata dos pokémons. Quando o jogador é bem sucedido em seguir as coordenadas e chega corretamente ao local onde está um pokémon, uma pokébola aparece na tela e é com ela que o jogador irá tentar aprisionar o pokémon.
E qual o objetivo do jogo, perguntei eu, caçar pokémons para quê? Ué, respondeu o aluno, para virar um treinador de pokémons, é claro. Claro, porra! Que burrice a minha! Para que alguém caçaria pokémons? Para virar treinador de pokémons, ora! Os caras capturam os pokémons, os treinam e depois se reúnem em ginásios para realizar batalhas entre eles - no jogo, também há coordenadas de locais na cidade em que jogadores devem se encontrar para travar suas contendas. Ou seja, o cara vira uma espécie de cafetão de pokémon; melhor, é um tipo de briga de galo.
Caçar pokémons... pããããããata que o pariu!
Quase não me contive - a fala chegou-me à garganta e eu a engoli de volta, feito vômito que conseguimos conter -, quase falei : caçar pokémons? virem homem, porra, vão caçar buceta!!!
Sim. Na minha época, na idade em que esses meninos estão, 16, 17 anos, a gente saía pelas ruas era a caçar a famosa buceta! Não à toa, a meladinha é conhecida também pela alcunha de A Perseguida. Caçávamos era buceta. Quase sempre fracassávamos, é verdade. Na época, há trinta ou mais anos, a buceta era presa muito mais difícil, não andava tão exposta como hoje, era mais furtiva, se camuflava melhor ao meio, era mais esquiva, arisca e arredia, era muito mais difícil de ser localizada, encurralada e, finalmente, capturada. Tanto que muitos meninos que queriam ver uma buceta acabavam indo na zona, mas aí não tinha muita graça, pegar buceta em zona é a mesma coisa que pescar em pesque-pague, não me dá nem nunca me deu tesão nenhum.
Caçar pokémons... Hoje, o jovem tem a internet como uma arma poderosíssima de localização, captura e abate de bucetas. Há sites em que o cara se cadastra com um único objetivo, trepar. Não é pra namorar, não é pra casar. É só para trepar rapidinho e nunca mais ver. Sites como o Tinder, Badoo etc, também se utilizam de mecanismos de geolocalização para colocar pintos e bucetas em contato. O cara se cadastra e assim que faz o login já aparece um mapa com a localização dele e de todas as bucetas disponíveis num raio de tantos quilômetros, é só o cara escolher a que está mais perto e partir pro crime. É um GPS de buceta!
Se houvesse um GPS de buceta quando eu era adolescente, eu não faria mais nada da vida, eu ia era gastar a rola, nem sei se estaria vivo até hoje.
Hoje, o jovem tem um GPS de buceta em suas mãos e faz o quê? Vai caçar pokémons! Ora, vão à merda, meninos. Caçar pokémons é o caralho! Vamos parar de perobagem, molecada. De queimar a rosca, de morder a fronha, de beijar pra trás, de dar ré no quibe, de agasalhar o croquete e de empanar a salsicha.
Vá caçar buceta, molecada! Vão caçar buceta, meninos. Vão armar alçapão pra pegar xereca. Vão bater tarrafa para pescar xavasca!
Buceta Go, meninos! Buceta Go!
 Taí, a Pikachana.

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3 Comentários

  1. Boa, professor.
    Então, na sua época, o senhor não pegava nenhuma mulher? Chegava em casa e se masturbava a noite inteira, imagino.
    O senhor é muito engraçado.
    E nos dias de hoje, o senhor caça bucetas com facilidade?

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    1. Rapaz, nenhuma também já é sacanagem, mas que era difícil conseguir uma louca pra dar pra gente, isso era.
      Hoje, casado, não caço mais nada, mas, volta e meia, sou eu quem tenho que escapar de alguma caçadora.

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    2. É gay, só pode ser.

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