O Planeta dos Macacos (Ou : o Longo Prelúdio da Minha Canção da Despedida)

O que fazer, velho amigo,
Quando nos virmos
Entre neandertais maquiados de sapientes?
Usando para o mal
Para o límbico
Não para o racional
Tecnologia de Flash Gordon
De Buck Rogers
De Kirk e Spock
De Star Wars?
Para se congregarem
Em torno de virtuais labaredas fotoelétricas
Chamas frias e tristes
Azuis, blues
Como é o sangue dos executados em câmara de gás,
Dos cianóticos?
O que fazer
Quando chimpanzés estão a bordo
E no comando de nossas portuguesas naus?
Pular fora do barco, velho amigo!
Deixar a nau à deriva,
Deixar a macacada naufragar em sua ilusão de inteligência.
E acender, velho amigo,
Esfregando dois gravetos
Atritando pedras de sílex
Uma fogueira paleolítica.
Para aquecermos o vazio da existência
(e para anestesiar a faina)
Com o qual nunca soubemos lidar.
Para tostar nossas caras
Para avermelhar nosso sangue
Para temperar nossas flechas
E nossas lanças.
Quando macacos, velho amigo,
Estão no comando
(e a servir de baterias)
Dos computadores
Só nos resta
(se você quiser me fazer companhia)
Assarmos nosso sustento 
Ao fogo elemental
Ao funeral
À cremação de ramos mortos.
Evocarmos a luz primeva
A furtada por Prometeu.
Só nos resta, velho amigo,
Deixar o futuro aos macacos
E retornarmos
E celebrarmos
O lume
A luz
O lux
O infravermelho primordial
(eu quero ser uma flor nos seus cabelos de fogo).
Involuirmos aos pelos
Dançarmos pelados
Ao som ensurdecedor
E inaudível das estrelas
Às vistas e aos holofotes dos pirilampos.
Relaxemos, velho amigo,
Deixemos os macacos dominar o mundo,
Entremos de penetras
Nos saraus das cianofíceas
E das diatomáceas da lagoa
Cujas criptógramas cápsulas
Ao contato da bronca dextra forte
Se esbroam.
Larguemos mão, velho amigo,
Larguemos mão.
Let it be
Let it be.
E por fundo musical
O profeta Raulzito,
Que sempre soube dessa merda toda.
(ah, mas que sujeito chato sou eu, que não acha nada engraçado, macaco, praia, carro, jornal, tobogã, celular, eu acho tudo isso um saco...)

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