Todo Castigo Pra Corno é Pouco (12)

Nada é mais democrático que o chifre. O bom e velho chifre não é de fazer luxo nem de escolher morada : cresce no pobre e no rico, no analfabeto e no doutor, no petista e no tucano, no cara-pálida e no pele-vermelha, no palmeirense e no corintiano, no machão e no boiola, no velho e no jovem, no sambista e no metaleiro (os metaleiros também amam, meu amor...), no normal e no maluco... sim, até no maluco. Até no Maluco Beleza.
É isso mesmo! Raul Seixas, o pai do rock, o maluco beleza, também já pagou de corno. E dos conformados!
Em sua canção A Maçã, em parceira com o alquimista Paulo Coelho, aquele que transforma a merda que escreve em ouro, em uma letra cheia de metáforas e de guéris-guéris místicos (talvez para tentar disfarçar), Raul deixa transparecer o chifre : "Eu quis ser tua alma, ter seu corpo, tudo enfim, mas compreendi que  além de dois existem mais...". Quantos mais??? Pelo jeito, Raul foi corno de múltiplos chifres, zebu de vasta galhada.
E continua : "Se eu te amo e tu me amas e outro vem quando tu chamas, como poderei te condenar? Infinita tua beleza, Como podes ficar presa, que nem santa num altar... Sofro mas eu vou te libertar..."
Tempos depois, em uma entrevista, Raulzito se disse arrependido de ter composto A Maçã, que não concordava com nada daquilo de dividir a mulher etc. Pode até ter se arrependido depois, mas que escreveu, escreveu. Enquanto o chifre estava a lhe doer. E a lhe inspirar.
Não se avexe, não, Raulzito, que chifre é igual a dente de criança, só dói quando está a romper, tem uns que até ficam com febre, mas depois a dor passa, a testa desincha e ele tem até alguma utilidade.

A Maçã
(Raul Seixas/Paulo Coelho/Marcelo Motta)
Se esse amor
Ficar entre nós dois
Vai ser tão pobre amor
Vai se gastar...

Se eu te amo e tu me amas
Um amor a dois profana
O amor de todos os mortais
Porque quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais...

Se eu te amo e tu me amas
E outro vem quando tu chamas
Como poderei te condenar
Infinita tua beleza
Como podes ficar presa
Que nem santa num altar...

Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...

Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...

Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...

Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...

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2 Comentários

  1. composição foi feita por Marcelo Motta, guru de Raul na época.

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    1. reparo feito e crédito dado a Marcelo Motta. obrigado pela correção.

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