Trepar Fortalece a Amizade

Quem nunca ouviu, depois de vencer o medo e a timidez e, finalmente, conseguir passar aquela cantada na pessoa desejada, a resposta : eu gosto de você como amigo, ou, eu sou sua amiga, não vamos estragar a amizade, tá? Ou qualquer desculpa semelhante?
Muita vezes, eram meses e meses tomando coragem, pensando, repensando, perdendo o sono, sondando cada gesto e palavra da amiga por que nos apaixonamos, procurando ver neles pistas de  um interesse recíproco, até que decidíamos, ou vai ou racha. E sempre rachava. Nada da "racha", pelo menos, no meu caso.
No começo, nas primeiras vezes, eu ficava sem graça, amuava, e acabava me afastando; com o tempo, mais calejado, com menos vergonha na cara, passei a lançar o desesperado contra-argumento : sim, somos amigos, você prefere dar para um inimigo?
Também nunca adiantou. Nunca encontrei ouvidos sensíveis ao meu raciocínio, tampouco bucetas que se abrissem à minha lógica. 
E as coisas foram seguindo assim, as minhas amigas dando para os seus não-amigos e eu sem comer ninguém. Nunca comi uma amiga, acho que vou morrer sem.
Falando sério, sem nenhum tipo de sacanagem ou ironia, nunca entendi essa coisa de estragar a amizade. Se gostávamos das mesmas coisas, dos mesmos livros, filmes, músicas etc, por que uma trepadinha poria tudo a perder? Pelo contrário, ao meu ver, só reforçaria a amizade, seria mais uma atividade em comum. Sempre pareceu óbvio para mim.
E não é que agora, o que eu sempre soube, a moderna ciência, mais uma vez com décadas de defasagem em relação à minha percepção, vem a confirmar?
A doutoura e pesquisadora Heidi Reeder, do Departamento de Comunicação da Boise State University (EUA), afirma que um sexozinho ocasional entre amigos não é apenas viável : é recomendável, fortalece a amizade.
Heidi Reeder analisou um grupo de 300 pessoas, 20% das quais disseram ter feito sexo com um(a) amigo(a) em algum momento de suas vidas, portanto, 60 pessoas das trezentas. Destas, 76% afirmararm que a amizade melhorou depois da furunfa.
Uma revelação surpreendente? Não, de forma alguma. Faz tempo que não me surpreendo com as "novas" descobertas das ciências, sobretudo das ciências humanas, que, para mim, são como ler jornal velho. E por que seria diferente, por que "novas" descobertas na área do comportamento humano deveriam me surpreender?
Sou humano, um bicho humano. Por que as coisas relacionadas ao comportamento de minha espécie me soariam como novidade? É novidade só para aqueles que não se põem ao exercício do autoconhecimento, que preferem ser analisados por outrem, feito voluntários e preguiçosos ratos de laboratório.
É novidade só para aqueles que não se lançam ao aprimoramento da capacidade humana de pensamento; e, sobretudo, para aqueles que não se consideram bichos, mas seres com uma parcela divina em seu DNA, autorretratos do Criador, seu inexistente criador.
Eu sou humano. Por que uma "revelação" a respeito do que sou, ou de como ajo, deveria me causar espanto? Eu sou o cientista de mim mesmo, meu próprio dissecador, meu próprio mineiro, escafandrista e astronauta. Nenhum cientista das humanas pode saber mais de mim que eu próprio, nenhum, inclusive, tem o direito de.
Portanto, o argumento que eu usava com minhas amigas para tentar conseguir uma trepada não era um mero ardil mal-intencionado, não era só uma cantada canalha. Era ciência pura! E só não era ciência aplicada porque não me deixavam aplicá-la.
Heidi Reeder constatou também que muitos começaram um namoro com o(a) amigo(a) depois da fincada, e 50% deles mantêm  firme o relacionamento, até casório já saiu - é o risco da brincadeira.
Ao lado, Heidi Reeder, toda alegre e sorridente, o que não é comum entre os acadêmicos. Mais que alegre e sorridente, eu até diria. Eu diria que é uma pessoa com cara de muitos amigos, aos quais, se ela põe em prática a teoria que professa, já deve ter dado muita felicidade.
Mais uma vez, a ciência mostrou-se morosa se comparada ao pensamento azarônico, mais uma vez, comeu a poeira de suas ideias. 
Ciências humanas, tá bom... conte-me outra, por favor.

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3 Comentários

  1. O problema não é estragar a amizade. Dizemos isso por gentileza, dizemos "nos importamos tanto com você e com a nossa amizade que não queremos estraga-la", mas na verdade queremos dizer "Não te enxergo como homem para um sexozinho, obrigada."

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    1. Sabemos disso, claro que sabemos, temos pleno conhecimento da falsidade feminina. Já disse Caetano Veloso :como pode querer que a mulher vá viver sem mentir?
      Só que vocês têm o que queremos, a famosa buceta, então, fazer o quê, né?

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  2. Duvido que se fosse com um Brad Pitt ou um Cauã Reymond, a bela iria soltar esse "não vamos estragar a amizade". DUVIDO!

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