Sexta-Feira 13

Nenhum gato preto
Cruzou hoje o meu caminho rumo ao trabalho,
Também nenhuma escada se interpôs a ele,
Me obrigando a passar sob a sua sombra funesta,
Nenhum espelho se estilhaçou
À visão de minha cara emburrada.
O céu estava da mesma cor
O ar, com mesmo cheiro e secura.
As mesmas pessoas, 
No ponto de ônibus ao lado do viaduto,
A esperar pelo mesmo ônibus lotado,
Que virá no mesmo horário,
Com o mesmo atraso.
A mesma garça branca
No rio que a avenida tenta sufocar,
Sua brancura atolada no lodo,
Que a macula e a nutre.
As mesmas pessoas a atender na padaria,
As mesmas sentadas ao seu balcão,
Os mesmos cafés,
Os mesmo pães com manteiga,
Que, por preguiça ou falta de tempo,
Preferem comer na rua. 
Os mesmos trabalhadores da limpeza pública,
E seus vassourões, 
E seus fúnebres sacos de lixo pretos,
A recolher a carniça das ruas,
Deixando-as prontas para novamente serem emporcalhadas.
Os mesmos velhos já a se acomodarem com seus jornais
Em seus velhos bancos de praça,
Os mesmos pombos piolhentos 
A ciscar os restos de comida que os mendigos não quiseram,
Ou que ainda não viram,
Uma vez que ainda dormem,
Os mesmos, em seus mesmos cantos,
Com seus mesmos cobertores
E seus mesmos fiéis cachorros aos seus pés.
Os mesmos porteiros, dos mesmos edifícios,
A separar a correspondência, a varrer as calçadas
A dar o mesmo profissional bom-dia aos moradores que entram e saem.
Os mesmos inspetores às entradas das mesmas escolas,
Os mesmos alunos, os mesmos professores, a mesma farsa.
Nenhum desastre,
Nenhuma catástrofe,
Nenhum prenúncio do apocalipse.
Ninguém me lançou um mau-olhado
Nem mesmo um olhar.
Um dia sem nada de mais,
Um dia comum:
Azarado como qualquer outro.

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