Jogos de Xadrez

Sentamos mesmo a qualquer mesa 
(Todas são iguais, tão amigas quanto rivais). 
Ouvimos, sem escutar, a música 
Saída de trás do balcão 
(Música que jamais colocaríamos para ouvir em casa, 
Entretanto aqui não nos incomoda). 
Bebemos bebida gelada 
Embora mais propício esteja o tempo 
A estanho fundido. 

Pessoas, máquinas voadoras, e velhas lembranças 
Passam por nós 
Nos vendo passar por elas 
Ainda que estáticos estejamos. 
(Há muito pesam correntes com bolas de inércia presas aos nossos tornozelos). 
Nossa cerveja tem gosto de metal 
Percolado na passagem pelo gargalo com ferrugem 
Deixada pela tampa recém-arrancada. 
(Ouvi dizer ser bom para o sangue, o tal do ferro). 

Embaralhamos nossas vistas 
Promovendo imaginários jogos de xadrez 
No quadriculado azul da toalha da mesa. 
(Nosso jogo sempre fica inacabado). 
Flertamos com mulheres gordas : 
Elas ficam felizes. 
Mas nem assim nos levam para dormir 
Nas suas carnes e camas quentes. 
(Será mais uma noite de intenso frio). 

Voltamos para nossas casas, 
Tão tristes quanto temíamos ficar 
Caso nelas tivéssemos permanecido. 
As ruas, o movimento, a bebida 
São incapazes de cancelar nosso compromisso, 
Nosso encontro marcado com a tristeza. 
E nem a porta com três fechaduras e travas de segurança, 
Coibir sua entrada. 
E que tristeza...! 
Que tristeza danada de doída !

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