Chocolate Pra Russo Nenhum Botar Defeito

A matéria-prima do bom e velho chocolate é a manteiga do cacau. Para se obter um produto à base de manteiga de cacau com boas qualidades, a manteiga deve ser inicialmente derretida, após o completo derretimento, inicia-se o processo de "cristalização", com resfriamento lento e gradual, com movimentação constante, induzindo a formação de uma estrutura estável e homogênea. É essa estrutura estável a responsável pela cor, brilho e, sobretudo, pela textura característica do chocolate.
Essa delicada estrutura é conferida por uma emulsão de glóbulos gordurosos, que ficam suspensos entre os sólidos do chocolate e garantem a cristalização por igual. Justamente a grande vilã do chocolate, a gordura, é que lhe dá suas desejáveis características e faz dele um dos alimentos preferidos e mais consumidos pelo ser humano.
Substituir esses glóbulos de gordura por outras substâncias, tornando o chocalate menos calórico e mais saudável, nunca produziu resultado satisfatório. Os chocolates com pouca gordura comercializados atualmente não têm a mesma textura dos convencionais, ficam aquela coisa meio esfarelenta, nem chegam a derreter por entre os dedos.
Pois cientistas britânicos parecem ter encontrado a solução para o torturante dilema, e o trabalho já foi descrito na publicação científica Journal of Materials Chemistry, em 2012. 
Os britânicos, numa sacada digna de um Prêmio Nobel, resolveram substituir os glóbulos gordurosos pelo ágar-ágar, uma substância mucilaginosa - uma gelatina extraída de algas marinhas, que também apresenta a propriedade de se solidificar homogeneamente após ser resfriada.
O ágar-ágar traz outra vantagem, é solúvel em uma grande gama de líquidos, inclusive em líquidos de fácil obtenção e de baixo custo, água e álcool a exemplos, mais até em álcool.
Assim, os iluminados cientistas ingleses, unindo o útil ao agrádavel e ao agradabilíssimo, resolveram se utilizar da vodka como o solvente do novo chocolate.
O ágar-ágar foi aquecido com a bebida - como no processo de fabricação da gelatina caseira. Depois, a gelatina foi resfriada até pouco menos de 40ºC, misturada à manteiga de cacau derretida e deixada a solidificar. O chocolate resultante, com 50% menos de gordura, apresentou a mesma cor, brilho e textura do convencional. E mais : continha 20% de álcool. 20% de álcool!!!
Portanto, uma barra de 200g desse chocolate contém 40g de álcool, quantidade que, feitos os devidos, revisados e corretos cálculos, equivale à de três doses de vodka líquida. Levar uma barra dessas na bolsa é o mesmo que carregar uma daquelas garrafas metálicas portáteis para bebida, daquelas que os sujeitos enrustem nos bolsos internos do casaco.
E o que é melhor, você pode "bebericar" seu chocolate à vontade, em quaisquer locais públicos e situações. Sem chamar a atenção nem despertar a menor suspeita.
Essa é a mais legítima e justificável das ciências. A ciência aplicada, a ciência a bem e conforto da humanidade, não a restrita aos laboratórios e compêndios acadêmicos. Inúmeros e promissores são os possíveis usos cotidianos desse novo chocolate. 
Aniversário de criança. Para quem não é criança, poucas coisas são mais chatas que aniversário de criança. Ainda mais que o politicamente correto já se instalou em tão inocente festividade. Antes, na cantoria do parabéns, na hora do "é pique, é pique", a gente cantava "é pica, é pica", e ríamos feito uns idiotas, de qualquer modo, era uma transgressão àquele enfadonho ritual familiar. Hoje, não. Hoje tem o parabéns, o "com quem será que ele vai casar", e, alastrou-se feito sífilis de uns tempos para cá, o "derrama, Senhor, derrama; derrrama sobre ele o seu amor". O cara quer dar uma de cristão até na hora do parabéns, ou, quem sabe, somente nela. É nessa hora que entra o novo chocolate. Uma barra e mais uns dois ou três quadradinhos e você vai até ajudar o petiz a assoprar a velinha, e as tias velhas a distribuírem os pedaços de bolo.
Casamento sem festa. Mais uma barca furada que, invariavelmente, todo mundo já entrou um dia. Sem festa, sem batata em conserva furada com garfo, sem nem aquela cerveja choca servida em jarros, só e somente a missa! Dá-lhe, de novo, o chocolate. Duas barras e até eu, que sou ateu, vou tomar a hóstia e auxiliar o padre a passar a sacolinha do dízimo.
Velório de parente distante. Daquele tio que foi casado com a prima de segundo grau do seu bisavô. Chocolate. Logo, logo, você estará carpindo o defunto e a consolar a viúva.
Feriadão na casa da sogra. Três ou quatro dias sem poder andar pelado e peidar alto. Chocolate.
Reunião de trabalho. Aquele burocrata empoado e janota, que nunca pôs as mãos à massa, que mal sabe do próprio ofício, e que insiste em querer lhe dizer como fazer o seu. Não discuta nem se exaspere. Pegue aquele café amargo, fraco e rançoso servido em toda reunião e dissolva nele o novo chocolate. Um chocolate quente a la cossaco. A reunião ficará uma delícia.
Uma caixa de bombons confeccionados com esse chocolate pode bem favorecer uma nova e eminente conquista amorosa. A incauta os comerá sem o receio de engordar e embarangar, uma vez que menos calóricos, e, uma vez que alcoólicos, ficará mais receptiva às nossas investidas, mais propícia ao abate. 
Água e suco de frutas podem ser usados em lugar da vodka, com resultados igualmente satisfatórios, diz Stefan Bon, líder da pesquisa. Mais aí, convenhamos, perde a graça, descaracteriza a birita.
Fonte : BBC Brasil

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