Fellini, Perde Longe; Dali, Choraria De Vergonha

"Pegar rabeira" é uma antiga prática urbana ainda muito corriqueira nos dias de hoje. Consiste em um moleque de bicicleta agarrado à parte traseira de um ônibus ou caminhão em movimento, indo a reboque deste, viajando clandestinamente, sem pagar passagem nem frete.
O risco inerente a esta aventura é evidente, basta que o veículo dê uma freada mais brusca para que o rabeirista estoure as fuças na carroceria, ou que execute uma virada repentina ou um desvio abrupto para que o bicicleteiro seja jogado para fora da rua, de encontro à calçada e aos pedestres, ou em um muro, parede ou grade.
Aí hoje, eu estava num cruzamento no centro da cidade, a esperar o semáforo ficar vermelho para os veículos, quando um ônibus passou por mim em velocidade nada comedida, e na sua traseira, um rabeirista. Um paraplégico.
É isto mesmo! Um paraplégico - um cadeirante, como são chamados hoje em dia - a pegar rabeira num coletivo. A cadeira de rodas dele não era dessas comuns, não. Tinha rodas com um design todo aerodinâmico, toda cheia dos guéri-guéris. Nem sei se existe, mas me pareceu um tipo de cadeira de rodas de corrida.
E o cadeirante não se fazia de rogado. Com a grande força que os paraplégicos possuem nos braços, ele ficava fazendo zigue-zagues com a cadeira, que deve ser lá uma espécie de manobra radical entre os cadeirantes. Será que rabeira de cadeirante já se tornou uma modalidade paraolimpíca?
Puta que o pariu! Um paraplégico pegando rabeira! O mundo não vai acabar, ele já acabou. Só não fomos avisados.
Com os imensos e devidos respeito e admiração que tenho pelos mestres surrealistas, devo dizer que eles estão obsoletos. Há muito foram ultrapassados. Pela própria realidade.
E é isso. Comentar mais o quê? Se há algo para, declaro-me incapaz de. 

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