Último Amigo

Nós não cabemos mais aqui, último amigo.
Que outro lugar para irmos, então?
Agora que todos os olhares
Estão voltados contra nós
Para onde os nossos olharão?
Voar, último amigo.
Voar.
Voar para bem alto
Até conseguirmos escutar as estórias tristes
Que as estrelas vivem a murmurar.
Quantos, além de nós, último amigo,
Ainda se lembram de que existem estrelas?
Deixemos nossas máscaras trancadas no armário,
Não precisaremos delas onde estamos indo,
Fiquemos apenas com as necessárias para se ter um rosto.
Fugir, último amigo.
Fugir.
Fugir para a nossa noturna Terra do Nunca,
Terra das sombras perdidas
Onde ficam guardados os sonhos mofados por falta de uso.
Quantos, além de nós, último amigo,
Ainda se lembram de que sonharam um dia?
Não cabemos mais aqui, último amigo.
É cada vez mais caro e culpado o sangue que bebemos,
Cada vez mais fáceis e vulgares as lágrimas que choramos.
Não há mais graça em rir
Daqueles que não riem mais.
Que outro lugar para irmos, então?
Para longe, último amigo.
Para longe.
Vamos para longe
Dos que estão mortos por crescerem demais.
Quantos, além de nós, último amigo,
Ainda se lembram de que não queriam ter crescido tanto assim?

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