Peitinhos

A adolescência é uma fase repleta de dúvidas, indefinições, conflitos, aflições e angústias : nada que o adolescente não mereça! E ainda é pouco. O adolescente é o mais irritante e abominável dos seres, e nem digo dos adolescentes de hoje, adolescente sempre foi um horror, até mesmo quando era chamado de púbere, até mesmo antes da invenção comercial da adolescência. À minha época, contudo, éramos sabiamente reprimidos pela sociedade adulta. Hoje são protegidos e mesmo imitados em suas atitudes por uma sociedade cada vez mais idosa e imbecilizada.
Mas já começo a me desviar do assunto. Voltando a ele, adolescente sempre foi insuportável e sempre teve preocupações com seu desajeitado corpo em mutação. Li, hoje, meio que sem querer, por falta do que mais ler, a tal Folhateen. Uma pesquisa revelou que o maior medo do adolescente masculino atual é que lhe cresçam os peitos : 65% dos pesquisados tem o crescimento das mamas como seu pior pesadelo.
Muito estranho. E preocupante. Quando adolescente, o crescimento ou não dos peitos era a menor preocupação minha e de meus contemporâneos. Pouco nos importava se iríamos ter peitinhos : nosso pior pesadelo era se iríamos ter pintinho. O que nos tirava o sono era que a benga, a famosa vara, não crescesse. Peitos? Mal sabíamos se os possuíamos. Nossa preocupação era a mais justa do macho.
Talvez fossem raros os casos de ginecomastia em minha época, não havia tantos hormônios na comida, mas cheguei a estudar com um menino peitudo na sétima série. Protegerei aqui seu nome, mas revelarei o apelido pelo qual tentavam hostilizá-lo, Mimosa, em clara alusão às suas mamas hipertrofiadas. Bullying? Porra nenhuma. Nem havia isso na época e, até hoje, desconheço a tradução dessa merda. Pais eram convocados e conselhos tutelares acionados? Também não havia esses cabides de emprego para assistentes sociais e pais ensinavam seus filhos a se defenderem na porrada. Eram tempos de macho, macho era macho e tinha de se virar sozinho. E Mimosa se virava muito bem.
Acontece que a natureza havia sido também generosa com outras partes da anatomia do Mimosa. Na troca de roupa para a educação física, à simples menção do apelido, Mimosa tirava o cacete do short e o chacoalhava em direção a seu detrator. Para nossos padrões etários, tínhamos 12, 13 anos, aquilo era uma monstruosidade. Mimosa pouco se lixava se tinha peitinhos, o que sabia é que tinha um tarugo de assustar. E isso lhe bastava. E isso é o que deveria bastar para um adolescente macho.
Só que agora vem mais essa, preocupação com o peito. E com o pinto? Ninguém se preocupa mais? Pelo andar da carruagem, temo que o cacete venha a se tornar um futuro apêndice na espécie humana. Aquilo tá lá, ninguém sabe muito bem por que e nem para quê, um órgão vestigial. Muitos, hoje, já o extirpam, e em nada o bráulio lhes faz falta, feito um dente do siso.
Para finalizar, confesso aqui que estatísticas que não fecham os 100% me incomodam bastante; assim, tomo a liberdade de fechar a tal pesquisa. Se ter peitinhos é o maior pesadelo de 65% dos adolescentes masculinos, suponho que para os 35% restantes, deva ser o sonho de uma vida. E esse número só tende a aumentar.
É o fim do mundo? O pior é que não.

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1 Comentários

  1. HusashuaEA
    Ri pra caramba com esse post !
    Po, e essa boiolisse começou faz pouco tempo.
    Eu agora com 20 tbm tinha a preocupação de qual tamanho seria meu braulio HHAHA
    Peitinhos ? Só se fosse a das meninhas que eu e meus amigos analisavamos pensando se valia a pena "investir" se aquela draga um dia ia valer a pena.. Apesar de nos com 10~11 anos nem saber direito do que estavamos falando :p

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