Outrora FM - Transmissão I - 4 de março de 2011

Essa é do LP "Cidades em Torrente" do Biquíni Cavadão, 1986.
Certas músicas, quando as ouvimos, parecem ter sido escritas para nós. Não foi o caso de "Timidez". Quando a ouvi pela primeira vez, ela não parecia ter sido escrita para mim : ela me pareceu algo que só eu deveria ter escrito, uma letra usurpada de mim, uma composição que alguém, por pura sorte ou circunstância, escreveu antes de mim, que nada escrevia na época.
"Eu me ensaio, mas nada sai", que inveja eu tive de não ter escrito essa frase, passei por essa situação incontáveis vezes e outro a grafou; "mas você me sorriu, lá se foi minha coragem", puta que o pariu, era isso mesmo; "toda vez que te olho, crio um romance", "talvez escreva um poema no qual grite o seu nome", "eu encubro, eu disfarço, eu camuflo, eu disfarço", "eu carrego comigo a grande agonia".
Essa música era o hino dos tímidos. Era meu hino, pelo menos. Dos outros tímidos, só posso supor : nós tímidos não temos um clube ou trocamos informações, somos tímidos demais para isso.
Depois disso até escrevi vários poemas gritando vários nomes, pouquissímas "poemadas" souberam disso, e a que soube, nem por isso resolvou dar pra mim. Hoje, posso dizer, praticamente expurguei essa timidez, o que, em termos práticos, de pouco me serve, livrei-me dela tarde demais.


Timidez

(Biquíni Cavadão)
Toda vez que te olho
Crio um romance
Te persigo, mudo
todos instantes
Falo pouco pois não
sou de dar indiretas
Me arrependo do que digo
em frases incertas
Se eu tento ser direto, o medo me ataca
sem poder nada fazer
Sei que tento me vencer e acabar com a mudez
Quando eu chego perto, tudo esqueço
e não tenho vez
Me consolo, foi errado o momento, talvez
Mas na verdade, nada esconde essa minha timidez
Eu carrego comigo a grande agonia
De pensar em você, toda hora do dia
Eu carrego comigo, a grande agonia
Na verdade nada esconde essa minha timidez
Na verdade nada esconde essa minha timidez
Talvez escreva um poema
No qual grite o seu nome
Nem sei se vale a pena
Talvez só telefone
Eu me ensaio, mas nada sai
O seu rosto me distrai
E, como um raio,
eu encubro , eu disfarço
eu camuflo, eu desfaço
Eu respiro bem fundo
Hoje digo pro mundo
Mudei rosto e imagem
Mas você me sorriu
Lá se foi minha coragem
Você me inibiu.

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