Ainda Sobre o Bondoso Deus

Tem mais de semana que estou com sintomas de gripe e, é bem verdade, até piorei de uns dias para cá. Particularmente, não me preocupa a demora de minha cura. Tenho mais de 40 anos, gripe que eu curava com 2 dias em meus vinte anos de idade, leva duas semanas agora, levará dois meses quando estiver com 60 anos e, provavelmente, não se curará quando eu estiver com 80. Nada mais normal.
Vai daí que por preocupação da esposa - e até da minha mãe -, cedi e fui ao médico. Fizeram-me hemograma para descartar possibilidade de dengue, e raios-X dos pulmões para descartar possibilidade de pneumonia; também me deram soro fisiológico na veia, único procedimento que não entendi, e esqueci de perguntar depois. Ambas foram descartadas. Nada que eu já não soubesse. Ando - a caminho do trabalho e na volta dele - uma média de 10 km diários; além disso, passo quase cinco horas ininterruptas de pé e falando, dando aula. Se com tudo isso e mais uma gripe comum, eu não me sentisse um pouco cansado, poderia requerer minha matrícula na Escola Para Mutantes do Professor Xavier.
Enquanto eu estava lá deitado, tomando o soro, puseram uma velha na cama ao lado, umas daquelas velhas que adquirem um aspecto mumificado, poderia tanto ter 80 como 120 anos. E a velha gemia de dor, cada fôlego seu era acompanhado de um "ai-ai", e a cada cinco ou seis fôlegos, um "ai meu deus". Levei uns 30 minutos recebendo soro, durante os quais foi colhido meu sangue, e depois fui conduzido à radiografia. Na volta, aguardando no mesmo quarto para receber alta, fiquei ainda uns bons quinze minutos ouvindo a velha em seus gemidos e rogos a deus, apesar dos analgésicos que já lhe haviam sido administrados. Saí e ela continou lá, sabe-se lá por mais quanto tempo.
E querem saber? Pelo que pude reparar, deus não a ouviu em um único de seus gemidos. Ou se ouviu, pouco se importou.

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